Sobre a mesa, o livro Escutem este silêncio, do poeta catalão Joan Brossa com tradução de Ronald Polito, e a companheira inseparável, Lana, uma gata charmosa que não se faz de rogada. Chega de mansinho, ronronando e se acomoda, numa “cara de pau deliciosa”, justamente em cima do bloco de notas da repórter. “Gosto dessa bagunça do gato. A presença dele sobre a seriedade que tentamos impor às coisas. Como agora, quando ele se debruçou, sem a menor cerimônia, sobre o seu caderno de anotações e de lá não saiu”, analisa o poeta, editor e tipógrafo ouro-pretano Guilherme Mansur, de 54 anos.
Da varanda de sua casa, em Ouro Preto, passou a fazer cliques dacidadee dos moradores, como um voyeur |
Chuva de letras: Com cinco livros de poesia publicados, Guilherme Mansur costuma brincar que foi alfabetizado por uma caixa tipográfica, já que sua família é proprietária de uma das gráficas mais tradicionais da cidade. Uma de suas criações mais interessantes, e que deve ganhar mais uma edição este ano, é a Chuva de poesia, que desde 1994 lança das torres das igrejas da antiga Vila Rica centenas de pedaços de papel colorido, com poemas estampados. “Não tem muita regularidade esse projeto, assim como a chuva de verdade. Chove quando tem que chover. Certa vez, coincidiu e caiu um pé d’água na cidade na hora da Chuva de poesia. Quando os fiéis saíram da missa, inverteram as sombrinhas só para poder recolher os poemas. Foi bem bacana”, lembra.
A chuva é apenas mais um exemplo da maneira diferenciada como o poeta encara a poesia. “Tudo pode virar poesia. Versos, ação, performance, happening. Eu a entendo de uma forma ampla e não me reprimo”, costuma dizer. E em alguns casos, chega até a “explorar” a sua imobilidade em nome da arte. No ano passado, ficou horas dentro de uma escultura do artista basco Eduardo Chillida, em um museu em Berlim, na Alemanha. A experiência inusitada rendeu o poema Wo ich bin (Eu estou). No mês passado, repetiu a dose, dessa vez na Praia da Ponta da Fruta, no Espírito Santo. O trabalho se chamou Eu é um outro, inspirado no poeta francês Arthur Rimbaud. Guilherme conta que passou 24 horas nas pedras contemplando o mar. A ideia é também escrever sobre a performance. “Foi uma tentativa de me transportar para outro lugar. Eu, que estou acostumado a igrejas, minério de ferro e sou um homem das montanhas, de repente, fui transportado para o lugar de outro som, outro cheiro. Senti um misto de sensações como angústia, solidão, alegria, sono. Mas uma lucidez profunda e uma vontade de ampliar meus horizontes e de procurar pela linguagem, que é a minha constante busca”, resume
Fonte: http://www.divirta-se.uai.com.br/
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